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Vôo solitário,
Como solitária é a noite.
Cruzo miríades de estrelas,
Mas não me encontro em nenhuma.






 
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É o lembrar da inocência, da completa ausência de percepção, de certos e errados. Te conheci, infante e linda, sem sequer saber o que era gostar. E gostava sem saber, sem entender muito o que era aquele coração riscado no pátio, meu nome junto ao teu...

Carolina era um encanto (ao menos, como me lembro dela): cabelos e olhos castanhos, pele clara como um copo de lírio. Lembro pouco de seu sorriso, mas não tenho dúvidas de que foi ele que me cativou.

Talvez me sentisse isolado - era novo naquelas terras, não tivera grandes experiências em fazer amigos nos lugares onde vivera até então; e crianças sabem discriminar como ninguém, quando querem. Eu queria fazer parte das turmas, ter amigos, mas me sentia literalmente no exílio em meio às costas que se me viravam.

Mas as meninas eram mais gentis. Ou pelo menos não passavam o tempo tentando mostrar como eram valentes, duronas, donas do pedaço. E após algum tempo, lá estava eu, socializado com o "clube" das meninas...

E assim me aproximei de ti. E entre o não entender e o não saber o que fazer, lá estava eu, passeando de mãos dadas contigo, ingênuo e feliz. E assim passeando, pulsava o coração riscado no pátio.

E havia o "clube" dos meninos, é claro. E após algum tempo, vendo que eu me dava bem com as meninas, foram me dando espaço, imaginando que eu poderia servir como "ponte" ou talvez um "espião" infiltrado no território inimigo. E eu, na minha ingenuidade superlativa até para um moleque de 6 anos, exultava no meu novo papel - talvez por simplesmente, de alguma forma, me sentir "aceito".

Mas o coração no pátio contava outra história. Não era eu um verdadeiro integrante da turma dos meninos? Não era eu leal ao "chefe" da gangue? Passear de mão dada com a líder das meninas era uma coisa, eu podia estar "colhendo informações" (ah, a ingenuidade...), mas que tipo de menino de verdade tem o nome num coração com uma garota?

E assim, cego para aquela delicada flor que se abrira tão cedo em meu jardim, mesmo com uma pitada de dor no peito, apaguei aquele coração riscado no pátio. Você não sorriu mais para mim, e aos 6 anos de idade, vi a primeira nuvem cobrir o meu céu infante...

04 Feb, 2010 - thomas



Aqui jaz. Morto às 21:20hs de 31 de janeiro de 2010. Causa mortis: falência múltipla de todos os sentidos, de todos os esforços, de toda vontade. Falência do desejo de consertar as coisas, de achar sentido. Insuficiência cardíaca (excesso de coração?), parada respiratória prolongada seguida de paralisia generalizada, concentrada na razão.

Por vontade do paciente, não se procedeu qualquer tentativa de ressuscitação.

Será enterrado a sete quilómetros de profundidade, sem necrópsia, sem sepultura, sem cerimônia, sem açucar e sem afeto.

31 Jan, 2010 - thomas



Devagar escorre a noite entre meus dedos.
Do vagar na noite fiz meu tédio, a
Circular pela aridez de meus sonhos, meus desejos.

Jaz minh'alma em meu corpo calabouço,
Morta por dentro, lânguido suspiro às avessas.
Mortalhas de mim mesmo,
Sombras de meu velho jardim cobrem o solo infértil, seco, triste...

Sou Homero de mim mesmo, cego dando horizontes aos que não sabem ver...

"Lembra que o sono é sagrado"...


26 Jan, 2010 - thomas



Talvez o que mais triste me deixe é o ceder à subserviência, ao "baixar a cabeça para o errado". Vender a alma ao diabo deixa de ser uma exceção, enquanto os novos cegos tateiam ordens aos novos surdos, num teatro mal ensaiado, porém aplaudido pelas turbas...

Mas já dizia Kipling: faz parte de ser humano ver transformadas em mentiras as verdades que se diz, e apesar disso, permanecer calado e recomeçar.

Organizar vem de organismo. E nenhum organismo opera bem quando não existe ordem, relações causais, princípios.

É fácil bater na maçaneta quando a fechadura está quebrada, mesmo que a primeira esteja perfeita; apenas que, batendo na maçaneta, você desconta a sua raiva por ser incapaz de consertar a fechadura. Eventualmente, você conseguirá um técnico para fazer a fechadura funcionar, mas quando isso finalmente acontecer, você já terá trocado a maçaneta há muito tempo. E pode ser até uma maçaneta pior que a anterior, mas você ficará satisfeito com a troca porque ela lhe dá uma sensação de poder sobre o problema, de ter participado de alguma forma da solução para a fechadura quebrada - mesmo que tudo fosse melhor antes, da forma de se segurar a maçaneta ao barulho que a atual faz quando a giramos. Enfim, tudo se resume à inabilidade de se consertar uma fechadura...

12 Jan, 2010 - thomas